sexta-feira, 11 de abril de 2008

DAS MEMÓRIAS

"Vale a pena falar das lágrimas em cacho a engravidar os nossos rios.Dos lugares perdidos de manhã e nunca nunca mais anoitecidos.Do cheiro à terra frescados campos que lavrámos.Dos filhos embalados nos braços persistentesda memória.Dos desamores maiorescom que os amores nos atam.Dos rostos antes lisos talhados pelos ventos dos pontos cardeais.Vale a pena falardo que fomos e andámose sofremos.Só devemos calar o que sonhamos."



"Sabes quem eu sou? Não te lembras de mim? Tirou os óculos. Com os dedos escondeu o bigode grisalho. Os olhos dela bailarinos a procurar algum sinal do passado. E ele de repente a rir, atirando a cabeça para trás, exageradamente. A medo: O D.! Claro, miúda. Demoraste. Há quantos anos? Não digas. Foi ontem. O abraço, ligeiro e depois apertado. Como me reconheceste? Estamos tão crescidos. Ele riu de novo. Pela voz, miúda. Quem tem uma voz como a tua? Ah, sim. Sentiu-se corar. Adolescente de novo. Hoje estou com pressa. Um seminário, estás a ver. Um dia destes almoçamos juntos, pode ser? Para lembrar tempos antigos. Ela disse: Talvez. Ele deu-lhe o número do telefone. Viu-o sair, virar-se para trás e acenar. Ficou especada. Deitou fora o papel com o número do contacto. A voz, só a voz não envelhecera. Ficou contente por saber onde se escondera a sua memória."

Licínia Quitério


Achei esse texto na net...Me lembrei da Historia do Bore...Resolvi postar.
POST BY PABLO

Um comentário:

Grupo Redimunho disse...

Incrivelmente as coias vão fazendo um profundo sentido!