segunda-feira, 21 de abril de 2008

...ao ator compete livrar-se das receitas de "como fazer"... importa descobrir o "como não fazer"... dispensar todos os clichês interpretativos e procurar a sua verdade... não é uma coleção de técnicas e sim a erradicação de bloqueios...

domingo, 20 de abril de 2008

Um dia o sol baixou na minha casa e decorou a janela com um raio amarelo...

por rudi

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Matita perê

http://www.youtube.com/watch?v=03kA-BD_53c

Obra prima de Tom Jobim, uma experimentalidade ímpar tanto musical quanto poética da canção brasileira, a letra é de Paulo César Pinheiro:

No jardim das rosas De sonho e medo Pelos canteiros de espinhos e flores Lá, quero ver você Olerê, Olará, você me pegar Madrugada fria de estranho sonho Acordou João, cachorro latia João abriu a porta O sonho existia Que João fugisse Que João partisse Que João sumisse do mundo De nem Deus achar, Ierê Manhã noiteira de força viagem Leva em dianteira um dia de vantagem Folha de palmeira apaga a passagem O chão, na palma da mão, o chão, o chão E manhã redonda de pedras altas Cruzou fronteira de servidão Olerê, quero ver Olerê E por maus caminhos de toda sorte Buscando a vida, encontrando a morte Pela meia rosa do quadrante Norte João, João Um tal de Chico chamado Antônio Num cavalo baio que era um burro velho Que na barra fria já cruzado o rio Lá vinha Matias cujo o nome é Pedro Aliás Horácio, vulgo Simão Lá um chamado Tião Chamado João Recebendo aviso entortou caminho De Nor-Nordeste pra Norte-Norte Na meia vida de adiadas mortes Um estranho chamado João No clarão das águas No deserto negro A perder mais nada Corajoso medo Lá quero ver você Por sete caminhos de setenta sortes Setecentas vidas e sete mil mortes Esse um, João, João E deu dia claro E deu noite escura E deu meia-noite no coração Olerê, quero ver Olerê Passa sete serras Passa cana brava No brejo das almas Tudo terminava No caminho velho onde a lama trava Lá no todo-fim-é-bom Se acabou João No Jardim das rosas De sonho e medo No clarão das águas No deserto negro Lá, quero ver você Lerê, lará Você me pegar

Tudo baseado em Guimarães, vejam aí gente.

Por Pedro

sexta-feira, 11 de abril de 2008

"MEROS SIGNOS DESTINADOS A EVOCAR ANTIGAS IMAGENS"

"Com a ultima afirmação, começa-se a atribuir à memória uma função decisiva no processo psicológico total: a memória permite a relação do corpo presente com o passado e , ao mesmo tempo, interfere no processo atual das representações.Pela memória, o passado não só vem`a tona das águas presentes, misturando-se com as percepções imediatas, como também empurra,
"desloca" estas últimas, ocupando o espaço todo da consciência. A memória aparece como força subjetiva ao mesmo tempo profunda e ativa, latente e penetrante, oculta e invasora."
Eclea Bosi
postado por Rudi
postei isso porque o exercicio de hoje me fez ir buscar em minha prateleira um antigo livro sobre Memória...
"Eu lembro os outros em mim" e "Os outros se lembram em mim..."

DAS MEMÓRIAS

"Vale a pena falar das lágrimas em cacho a engravidar os nossos rios.Dos lugares perdidos de manhã e nunca nunca mais anoitecidos.Do cheiro à terra frescados campos que lavrámos.Dos filhos embalados nos braços persistentesda memória.Dos desamores maiorescom que os amores nos atam.Dos rostos antes lisos talhados pelos ventos dos pontos cardeais.Vale a pena falardo que fomos e andámose sofremos.Só devemos calar o que sonhamos."



"Sabes quem eu sou? Não te lembras de mim? Tirou os óculos. Com os dedos escondeu o bigode grisalho. Os olhos dela bailarinos a procurar algum sinal do passado. E ele de repente a rir, atirando a cabeça para trás, exageradamente. A medo: O D.! Claro, miúda. Demoraste. Há quantos anos? Não digas. Foi ontem. O abraço, ligeiro e depois apertado. Como me reconheceste? Estamos tão crescidos. Ele riu de novo. Pela voz, miúda. Quem tem uma voz como a tua? Ah, sim. Sentiu-se corar. Adolescente de novo. Hoje estou com pressa. Um seminário, estás a ver. Um dia destes almoçamos juntos, pode ser? Para lembrar tempos antigos. Ela disse: Talvez. Ele deu-lhe o número do telefone. Viu-o sair, virar-se para trás e acenar. Ficou especada. Deitou fora o papel com o número do contacto. A voz, só a voz não envelhecera. Ficou contente por saber onde se escondera a sua memória."

Licínia Quitério


Achei esse texto na net...Me lembrei da Historia do Bore...Resolvi postar.
POST BY PABLO

quinta-feira, 10 de abril de 2008

quarta-feira, 9 de abril de 2008


"pra cantar nao pode ter acanho..."


A BARCA...o Pedro me emprestou um DVD do grupo ...é muito bom...vcs precisam ver...

Desinteligizando a inteligencia, desneologisando a palavra quase como quem quer descriar e por si mesmo o proprio ato tentado passa ser criar o que mesmo outros ja criaram...

Ela passava os dias na janela...é o que dizia o doutor!

E através da irmã é que se sabia ...DEPRESSÃO PROFUNDA!

Não saia mais de casa , ficara de dar medo...engordara demais...agigantou externa de si...

cresceu por fora em demasia e se apequenou de alma...se findou interna de si mesmo!

Desmagreceu! Vivia com uma patetice escancarada!

Marchando no vazio sem som, descontrolando o tempo.


...achei essas falas que cortei do arauto...de uma cena também que cortada foi....

terça-feira, 8 de abril de 2008

AS LETRAS DE CHICO BUARQUE.

Em um exercício de imaginação e colagem poética, Cultura esboça um texto autobiográfico, no qual Chico Buarque sugere que sua vida e sua arte sempre andaram juntas
Meus caros amigos me perdoem, por favor / Se eu não lhes faço uma visita / Mas como agora apareceu um portador / Mando notícias nesse texto. Fazer 60 anos não é fácil, continuo procurando um lugar, uma espécie de bazar / Onde os sonhos extraviados / Vão parar / Entre escadas que fogem dos pés / E relógios que rodam pra trás. A vida, afinal, é como a mulher - curiosa, tonta e colorida. E olha que eu não peço muito: Pra mim basta um dia / Não mais que um dia / Um meio dia / Me dá / Só um dia / E eu faço desatar / A minha fantasia.
No início, lá por 1964, havia muita que exigia que eu ficasse trocando em miúdos o que pensava. Lembram da Carolina? Lembram que Caetano, Gil e os Mutantes achavam que eu era um alienado? Depois, todos nos tornamos caros amigos, mas houve um momento, lá por 1969, que deixei claro meu rumo. Rugi que eu queria não cantar / A cantiga bonita / Que se acredita / Que o mal espanta / Dou um chute no lirismo / Um pega no cachorro / E um tiro no sabiá / Dou um fora no violino / Faço a mala e corro / Pra não ver banda passar.
Lembram que época difícil? Era uma roda-viva, tipo aquelas em que a gente se sente / Como quem partiu ou morreu / ... / A gente quer ter voz ativa / No nosso destino mandar / Mas eis que chega a roda-viva / E carrega o destino pra lá. Lembra como era difícil mandar no destino, nos anos 70? O regime militar ainda não havia passado - longe disso. E lá fui eu, para Roma, com Marieta e as crianças. Cruzei o oceano mas deixei uma maldição para os que me perseguiam: "Você vai saber de mim / Mambembe, cigano / Debaixo da ponte, cantando / Por baixo da terra, cantando / Na boca do povo, cantando". A saudade batia forte, me fazia mandar recados para a terrinha, me fazia pedir ajuda ao Vinicius para criar um lamento: "Vai meu irmão / Pega esse avião / Você tem razão / De correr assim / Desse frio / Mas beija / O meu Rio de Janeiro / Antes que um aventureiro / Lance mão".
Mas nunca deixei de denunciar, não por gosto ou desfeita - mas porque a ética regia minha estética na época. Eles eram gente de rosto escuro: enterravam suas vítimas no mar. Eu reagia cantando a dor das mães de quem era supliciado: "Quem é essa mulher / Que canta sempre esse estribilho / Só queria embalar meu filho / Que mora na escuridão do mar". Às vezes era engraçado, como quando mudei meu nome para Julinho da Adelaide. Tentei e consegui enganar Dona Censura, e o Brasil cantou amargamente "Que o bicho é brabo e não sossega / Se você corre o bicho pega / Se fica não sei não / Atenção / Não demora / Dia desses chega a sua hora". Meus olhos cor de ardósia - pausa na modéstia - faziam tanto sucesso que eu podia chegar para um dos presidentes da República e dizer "Você não gosta de mim / Mas sua filha gosta".
Meus versos, levei 60 anos para descobrir isso de coração, sempre andaram de mão com o brasileiro, foram um diário de uma nação. Como quando registrei a ressaca da campanha das Diretas, criando um samba com minha cabeça já pelas tabelas. Mas claro que ninguém se tocou com minha aflição / Eu via todo mundo na rua de blusa amarela. A partir dos anos 90, meu compromisso já não era tanto com a liberdade democrática, mas com a liberdade de criar, me orgulhava de desfilar na praça outra vez / Caminhando na ponta dos pés / Como quem pisa nos corações / Que rolaram dos cabarés.
Continuei jogando futebol, escrevi livros, fiz filhos e plantei esperanças, mas não deixo de sentir. Continuo tocado pela vocação de ser artista, tradutor da dor, caro amigo com talento. Sei que meus 60 anos estão multiplicados no peito de cada um de nós. E estou aliviado por confirmar que eu estava certo quando escrevi: "Imagino o artista num anfiteatro / Onde o tempo é a grande estrela / Vejo o tempo obrar a sua arte / Tendo o mesmo artista como tela".
Mas não me levem a sério: fiz o que fiz só para poder, um dia, escrever um verso superlativo de despretensão. E vou aproveitar as prerrogativas de aniversariante até a última linha. Lá vai: "Tem um japonês trás de mim"...

Para construir este texto, foram usados versos das seguintes músicas de Chico Buarque: Meu Caro Amigo, 1976; A Moça do Sonho, 2001; Vai Levando, 1975; Basta um Dia, 1975; Trocando em Miúdos, 1978; Carolina, 1967; Agora Falando Sério, 1969; Roda Viva, 1967; Mambembe, 1972; Samba de Orly, 1970; Angélica, 1977; Acorda Amor, 1974; Pelas Tabelas, 1984; A Volta do Malandro, 1985; Tempo e Artista, 1993; e Bye Bye, Brasil, 1979.
(POSTADO POR JANAÍNA - ENCAMINHADO POR RUDI)

"A moça do sonho"

Composição de Chico Buarque e Edu Lobo.
*se quiser ouvir, pode acessar http://www.radiouol.com.br/ e digitar o nome da música. Tem uma linda versão na voz da Bethânia, entre outras.

Súbito me encantou
A moça em contraluz
Arrisquei perguntar: quem és?
Mas fraquejou a voz
Sem jeito eu lhe pegava as mãos
Como quem desatasse um nó
Soprei seu rosto sem pensar
E o rosto se desfez em pó
Por encanto voltou
Cantando a meia voz
Súbito perguntei: quem és?
Mas oscilou a luz
Fugia devagar de mim
E quando a segurei, gemeu
O seu vestido se partiu
E o rosto já não era o seu

Há de haver algum lugar
Um confuso casarão
Onde os sonhos serão reais
E a vida não
Por ali reinaria meu bem
Com seus risos, seus ais, sua tez
E uma cama onde à noite
Sonhasse comigo
Talvez

Um lugar deve existir
Uma espécie de bazar
Onde os sonhos extraviados
Vão parar
Entre escadas que fogem dos pés
E relógios que rodam pra trás
Se eu pudesse encontrar meu amor
Não voltava
Jamais


(POSTADO POR JANAÍNA)